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sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

 Contos de Areia_nº2 

                                        Encontro extraordinário

                               

Ela adorava ir até a beira-mar nas primeiras horas da manhã: quando os raios solares lhe pareciam ter um brilho especial e as areias ainda estão vazias. Nesses passeios matinais, apenas a companhia de algumas aves em busca de alimento e, um ou outro pescador solitário.

Desde menina foi apaixonada pelo mar, o que lhe levou a estudar Biologia Marítima.  

Naquele dia especialmente, o sol parecia brilhar de forma mais intensa, o céu completamente limpo, sem uma única nuvem, de um azul muito vivo!

Mar aberto, naquela região do sul do Brasil, com a formação de muitas ondas...E naquela manhã de um sol maravilhoso, nenhum vento, mar limpo, águas verdes que brilhavam como um espelho devido a incidência da luz solar! E as ondas? Traziam em suas cristas uma espuma muito branca, e pareciam estar chegando na areia sob uma cadência ritmada! Um verdadeiro espetáculo da natureza!

Era um dia extraordinariamente lindo, perfeito para algum acontecimento especial!

Ela estava sentada na areia já alguns minutos, completamente fascinada pelo esplendor daquele amanhecer, quando um único pescador, bem ao longe, e que sem sorte em sua empreitada, notou sua presença e começou a acompanhar intrigado e curioso a imobilidade da jovem à beira-mar! O pescador também presenciava aquele show da natureza, mas acostumado àquele ambiente e focado no que fazia, não percebia a magnitude do que ocorria a sua volta!

Ela continuava com olhar fixo no horizonte, naquele ponto distante, onde o mar e o céu parecem se encontrar, tendo o sol como testemunha! Gostava de ficar só, simplesmente olhar o mar, respirando o ar da maresia. Para algumas pessoas, seu comportamento era estranho, esquisito. Sempre fora assim! Ela não se importava com o que as pessoas pensavam, na verdade, sempre se sentiu deslocada, como se não pertencesse àquele mundo em que vivia. Preferia a companhia dos animais, das plantas, às pessoas! Ficar só a beira mar sempre era um deleite, um verdadeiro prazer para ela.

A presença do pescador a alguns metros de distância não lhe incomodava; embora tivesse percebido que ele não tirava os olhos de sua figura. Tentou ignorá-lo.

E foi então que avistou alguma coisa, bem longe da orla, antes do local de formação das ondas. Parecia ser um animal grande, que brincava na superfície da água. Sem entender por que, seu coração bateu acelerado. Ficou ansiosa, como se soubesse, inconscientemente, que alguma coisa grandiosa fosse acontecer.

Colocou a palma da mão sobre as pálpebras, acima dos olhos, tentando aguçar a visão e confirmar a presença de alguma coisa no mar!

O pescador notou essa movimentação, e igualmente voltou sua atenção para o mar. E sem dificuldade  percebeu o que tanto atraía a atenção da jovem; que a essa altura, já estava em pé, hipnotizada, olhar fixo no mar. Ao pescador, pareceu que algum animal de porte nadava  sobre o espelho d’agua, como se quisesse usufruir dos raios solares...

Não era possível identificar com precisão que tipo de animal era; naquele momento, o pescador acreditou ser um golfinho ou leão marinho. Tinha certeza que não era um predador, um tubarão! Pois havia um certo encantamento, uma harmonia, parecia que aquele animal estava numa espécie de apresentação e não em busca de comida.

A jovem caminhou em direção ao mar, sem nunca tirar os olhos dos movimentos nas ondas, completamente fascinada pelo show que aquele animal propiciava; e o que quer que fosse, nadava vindo para a praia. Não tinha pressa; vez que outra mergulhava e desaparecia por alguns instantes, para aparente desespero da jovem, para logo depois ressurgir com leveza e magia. Fazia acrobacias, se exibia, como se entendesse que havia quem se interessava por sua presença, ali, naquele pequeno balneário, num dia de amanhecer exuberante!

O pescador já tinha convicção de tratar-se de um golfinho, mas daquela distancia, lhe parecia ser gigantesco, muito maior do que qualquer indivíduo que já tivera conhecimento.

Talvez uma espécie mutante? Uma espécie desconhecida?  

Agora, o pescador também se interessara pelo animal que se avizinhava da orla.

Resolveu se aproximar da jovem, que já demonstrava a intenção de entrar no mar; atitude não recomendável, uma vez que não era possível prever as reações do animal. Antes, porém, resolveu recolher suas linhas de pesca. Tarde demais! Quando percebeu, ela já estava entrando no mar, com alguma dificuldade, é verdade, devido a força das ondas. Ele ainda gritou:

- É perigoso moça! Não entre!!

Ela olhou para ele um instante, nada respondeu, apenas deu de ombros e seguiu caminhando.

O pescador veio correndo, entrou no mar e continuava a alertar do perigo:

- Volte moça! É perigoso!

E foi nesse momento que a maior surpresa aconteceu. Repentinamente, a poucos metros à frente da moça, o enorme golfinho emergiu sobre as águas, em pé! O pescador ficou paralisado, num misto de surpresa e medo. Com os olhos esbugalhados, a boca seca, a respiração acelerada, não conseguia raciocinar e não tinha a compreensão do que estava acontecendo.

O animal continuava a brincar em pé sobre as águas. Os raios do sol batiam na sua pele molhada e a deixavam com cor e brilho únicos. Ele, agora, emitia uns sons. Parecia estar feliz!

O mar parecia entender o que se passava: as ondas repentina e surpreendentemente acalmaram. Agora, não passavam de pequenas marolas, facilitando a caminhada da jovem até o animal, que agora nadava em círculos, num pequeno raio de água, à frente da trajetória da moça.

Sem acreditar no que via, o pescador acompanhou em choque, a distância, o que se passou a seguir...

A jovem caminhou até onde pode, mas logo teve que nadar para se aproximar do animal. Era como um encontro marcado: o animal continuava a nadar em círculos, esperando que ela chegasse até ele!

Quando ela chegou bem próximo, numa área mais profunda, onde não existia o risco de encalhar, ele se aproximou, lenta e tranquilamente! Ficaram se olhando longos segundos. A jovem então, com uma mão se firmava nele, e com a mão livre lhe tocava o rosto. O animal começou a emitir uns sons baixinhos, enquanto ela tocava e beijava-lhe o corpo.

O pescador a tudo assistia, incrédulo! E então, ele deu um mergulho, para quase que imediatamente emergir novamente, só que desta vez, bem embaixo da jovem, fazendo com ela ficasse sobre seu dorso. Ela, de longe, não parecia nem um pouco assustada: era possível vê-la acariciando o corpo do animal. Ele nadou em círculos, com ela agarrada a barbatana superior, para logo depois se posicionar sobre o animal, como se cavalgasse.

Foi quando ele emitiu um som muito alto. Não era um grito de medo ou dor! Parecia um grito de felicidade, de conquista ou vitória! E então, rapidamente se aproximou do pescador que a tudo assistia, completamente aturdido. O pobre homem ficou paralisado, em choque! Era um golfinho gigantesco, enorme, mas sua expressão era dócil, seus movimentos amáveis. Parecia rir, e então, seus olhos se encontraram com os do pescador.

Haveria satisfação e alegria naquele olhar animal?

O pescador procurou os olhos da jovem: ela estava em êxtase no dorso do animal. Parecia imensamente feliz e realizada!

E então, tão rápido quanto se aproximaram, eles se foram, mar adentro!

O pescador ficou olhando, impassível, perplexo, enquanto eles se afastavam, parecendo nadar sobre um espelho d’agua! Quando estavam quase no horizonte, último estágio onde a visão do homem ainda alcançava, percebeu que o animal deu um salto magistral e mergulhou....

Foi a última coisa que sua visão humana pode constatar!  

O pescador ainda ficou algum tempo ali, parado, olhando o horizonte! Na esperança de que aquele animal trouxesse de volta a praia aquela jovem! Mas eles nunca voltaram!

Nunca contou a ninguém o que presenciara! Ninguém acreditaria!

A moça nunca mais foi vista, nem seu corpo encontrado. Simplesmente desapareceu!

Quem me contou essa história? Não vou lhes dizer, vocês não acreditariam... FIM

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