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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Contos Urbanos _Inconsequentes

Contos Urbanos nr.3_”Inconsequentes!”

De Mara Assumpção

 

Não se fala em outra coisa: Covid, vacinas, distanciamento social. Não aglomere!

Confesso que estava farto disso tudo!

Minha academia ficou fechada por muito tempo, meu futebol semanal, impedido por meses interruptos. Comemorar aniversário? Nem pensar!

Amigos concluíram a graduação, e tiveram colação de grau em gabinete... Eu estava cansado!

Também fiquei um pouco confuso: não sabia no que acreditar, em quem confiar!

Nossos governantes e políticos pareciam perdidos! Alertavam-nos para ficar em casa, mas todos eles estiveram nas ruas, fazendo campanha (e aglomerações) para as eleições municipais de 2020!

Transporte público? Lotados!

Então, eu não levei muito a sério essa história de usar máscara, evitar aglomerações, distanciamento social! Atendia os protocolos, somente quando era obrigado!

Além de tudo, tenho 27 anos, sou jovem, saudável, faço natação e academia, jogo futebol toda semana, corpo atlético, e não corria o risco de contaminar pessoas vulneráveis, dos grupos de risco. Divido o aluguel do apartamento em que moro com um colega de trabalho!

No final do ano, eu sabia que a contaminação estava aumentando, mas em nenhum momento me senti em perigo.

Essa peste estava bem longe de mim! Até que um dia, fiquei sabendo dos avós de um amigo de infância que haviam sido contaminados e estavam hospitalizados. Fiquei chateado!

Pandemia dos infernos!

Esse meu amigo acabou perdendo o avô, e semanas depois, a avó. Mais de quarenta dias de UTI, e acabaram não resistindo. Dez dias entre uma perda e outra. E nem puderam fazer um funeral decente! Que tristeza!

Esse vírus é cruel e agressivo, covarde para com os idosos! Era o meu pensamento e da grande maioria da minha geração!

As semanas foram passando, a evolução da pandemia no meu estado estabilizando, o medo do desconhecido reduzido, as restrições de circulação afrouxando!

Pude voltar para a academia, uma cerveja com os amigos no final do expediente.

Continuava a recomendação para se evitar as aglomerações; mas um churrasquinho depois do futebol... Nada demais, umas vinte pessoas no máximo!

Ano novo, verão, férias...

Quase esqueci que vivíamos uma pandemia; já estava costumado ao nosso novo normal.

Até o dia em que fiquei sabendo que minha irmã estava com Covid!

Foi a primeira vez que tive medo, pela saúde dos meus pais.

Minha irmã ainda morava com eles; ambos cinquentões, meu pai cardiopata, minha mãe, asmática.

Felizmente, ninguém precisou ser hospitalizado. Apenas sintomas gripais! Passou...

Achei que a mídia estava aumentando o tamanho do “bicho”. Relaxei!

As vacinas estavam chegando, minha família estava curada, e eu acreditava, imunizada.


Férias e carnaval. Fui convidado a dividir o aluguel de uma casa na praia.

Muita bebida, música, praia, festas!

Esquecemos que havia uma pandemia: nenhum protocolo de prevenção.

A casa era dividida por um grupo de dez pessoas. Só diversão!

Quanta irresponsabilidade! Fomos inconsequentes...

Três dias antes do nosso retorno, uma de nossas amigas começou a sentir indisposta: dor de cabeça, alguma tosse e cansaço. Achou que estava gripada!

Na véspera do nosso retorno, o alarme soou!  Nossa amiga acordou febril, e suas companheiras de quarto, começaram a apresentar sintomas semelhantes!

Resolvemos todos fazer o teste do Covid numa farmácia! Éramos dez, oito positivaram!

Voltamos para casa naquela mesma tarde; nossa amiga foi direto para uma Emergência.

Eu estava entre os positivados, mas até o dia seguinte, sem qualquer sintoma!

Acreditei ser assintomático, afinal sou jovem!

Porém, no dia seguinte, o pior aconteceu: dor de cabeça e garganta, tosse e um cansaço associado a dores no corpo! Do nada, comecei a me sentir muito mal.

Não quis assustar minha família, avisei por “whatsapp” que estava com Covid, mas que eram apenas sintomas gripais.

Passei aquele dia na cama, não tinha fome; só um total desânimo; mas a noite apareceu febre e a falta de ar!

Foi uma noite terrível: nunca me senti tão mal! Não conseguia respirar direito!

Meu amigo, com quem eu dividia o apartamento, também positivado, estava assintomático e foi quem me levou para um hospital.

Lotado! Emergência fechada, não podiam receber novos pacientes!

Fomos encaminhados para uma Unidade de Pronto Atendimento, que também estava transbordando de gente! Mas como eu estava muito febril e com bastante falta de ar, fizeram o meu atendimento.

Agora, estou aqui a gravar esse áudio; respiro com dificuldade, mas preciso alertá-los!

Continuo na UPA, num leito na emergência, esperando os resultados de uma tomografia pulmonar. Já entrei na lista de espera por um leito hospitalar, já me disseram que meu caso é grave, talvez caso de UTI! 

Não quero ir para uma UTI! Estou com medo!

Será que conseguirei um leito de UTI? Tenho convênio, mas está tudo lotado!

Por favor, se cuidem! Não sejam inconsequentes como eu fui!

Esta me faltando o ar....

SOCORRO!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

 Contos de Areia_nº3

                                                   A Senhora das Águas

                                     Mara Assumpção

Era final de janeiro, e Janaína, em férias, estava de volta a sua cidade natal, uma pequena cidade litorânea no sul do país. Fazia quase sete anos que não via sua vó paterna, agora com mais de 80, uma senhora desde sempre muito religiosa e devota de Iemanjá. Coincidência ou não, o dia da Senhora das Águas seria dali a quatro dias, e Janaína estaria na cidade e presenciaria as festividades e homenagens a Rainha do Mar!

Em sua cidade, independente de religião, quase a totalidade dos moradores eram devotos da entidade associada ao mar: Iemanjá, N. Sra. dos Navegantes, Marabô, Sereia do Mar, Iara; nomes diversos que retratavam a mesma divindade.

Seu próprio nome, Janaína, era uma homenagem a ela, a Senhora das Águas. Conforme haviam lhe contado, uma promessa feita pela sua mãe e avó paterna, quando pouco antes do seu nascimento, o barco pesqueiro em que seu pai era o mestre comandante, ficou à deriva em alto mar por sete dias, após uma tempestade inesperada.  Quando todas as esperanças de encontra-los já estavam esgotadas, eis que um navio petroleiro os resgata, a milhas de distância. Todos marinheiros/pescadores estavam vivos. Debilitados, mas vivos!  

Foi considerado um milagre e um grande acontecimento na cidade: teve festa, missa, culto, procissão pelas ruas com a imagem da santa, oferendas a beira mar! Iemanjá, a Rainha do Mar e protetora dos pescadores os havia auxiliado e salvado; e o povo, independente de religião, festejou e agradeceu o grande acontecimento!

Contam que, passados cinco dias do desaparecimento do barco, sua vó, angustiada ante a perda iminente do seu filho caçula, avisa sua nora, grávida de 8 meses, que precisava ir à beira mar, à noite. Precisava orar e pedir a intervenção de Iemanjá na causa. A mãe de Janaína, quisera acompanha-la, mas devido a gravidez adiantada, foi convencida a não o faze-lo.

- É melhor não, minha cara! Seu estado não recomenda caminhar na areia, à noite!

- Deixe comigo! Iemanjá, mãe de todas as mães, vai entender tua ausência! Escreva um bilhete a ela, conte de tua aflição e peça que ela traga de volta o pai da tua filha que está prestes a nascer! Ela há de nos ouvir e atender!

- Ah dona Ieda, eu queria ter tanto sua certeza! – responde a nora com a voz embargada pelo choro retido.

- Fé minha cara! Minha certeza se chama fé!

- As pessoas com fé também morrem, ficam doentes, se afogam... – completou a jovem gestante, cheia de angústia e medo.

A senhora pegou as mãos da nora entre as suas, deu-lhe um beijo na testa, e disse:

- Meu coração de mãe me diz que meu filho está vivo! Sei disso, eu sei que meu filho está vivo, e só precisa encontrar o caminho de volta! Iemanjá precisa intervir e ajudá-los! Venha, me ajude a arrumar nossa oferenda. Firme seu pensamento naquilo que pedimos e tanto queremos! Não deixe que o medo paralise sua alma! Vamos colocar sua carta dentro do barco, junto com os presentes...

Ficaram em silêncio até que a jovem grávida se acalmasse. Por fim, a senhora disse:

- Faça seu pedido, e já se comprometa a honra-la em agradecimento!

- Honrá-la? Como? Oferendas em seu dia?

A senhora olhou para a nora, contrariada.

- Isso a gente faz todos os anos!  Estamos vivendo uma situação especial! Vamos prometer que caso nosso Igor retorne do mar, sua filha que em breve estará em nossos braços será a lembrança viva da grande graça alcançada!

- Não entendi!

- O nome da menina! Coloque um nome em homenagem a grande mãe!

- Mas a menina vai se chamar Lara! Igor e eu já escolhemos o nome!

- Bom, você que sabe! Acredito que uma grande graça, pede uma grande honra!

A jovem grávida ficou pensativa. Não falaram mais no assunto.

Durante a tarde, as duas preparam a oferenda que fariam a Iemanjá: rosas brancas, velas azuis, sabonetes e perfume, cocadas e a carta. Todas as oferendas colocadas num pequeno barco azul e branco, feito de isopor, que foi solto no mar, perto da meia noite, naquele mesmo dia.

No final do dia seguinte, para alegria e alívio de todos, chegou a notícia de que na manhã daquele dia, o barco de pesca havia sido resgatado em alto mar e que todos estavam bem.  

Quando a menina nasceu, Igor e sua esposa não tiveram a menor dúvida no nome: Janaína! Todos na família tinham a convicção de que foram as preces e a fé da dona Ieda, que sensibilizaram Iemanjá, a Senhora das Águas.

Todos, menos Janaína.

A menina cresceu ouvindo essa história. Cresceu participando das oferendas e festas a beira mar em homenagem a Rainha do Mar! Mas para desespero de seus pais, e principalmente de dona Ieda, quando adulta ela foi clara e transparente em suas afirmações: ela não acreditava numa divindade do mar, não acreditava em santos e orixás, tinha até mesmo dúvida a respeito de Deus!

Agora, ali estava ela, sozinha e sentada a beira mar relembrando a história que lhe fora contada, sobre seu próprio nome, que por sinal não gostava, passados já 29 anos!

Ao voltar para casa, sua vó lhe recebeu com um doce sorriso, dizendo:

- Estou tão feliz que você estará conosco nas homenagens à Senhora das Águas, depois de tanto tempo...

Janaína ficou surpresa com a afirmação da vó, pois em nenhum momento falou qualquer coisa a respeito. Na verdade, não pretendia comparecer aqueles rituais que considerava arcaicos, fora de propósito.

– Minha vó, quem lhe disse isso? Não pretendo ir à beira mar!  A senhora bem sabe que não consigo apreciar essas festas!

A velha senhora nada disse, retirou-se em silêncio. Janaína ficou pensativa, tentando se convencer que não era obrigada ir a um evento que lhe desagradava. Por fim, sem conseguir ficar em paz consigo mesmo, foi atrás da Vó.

- Minha vó, tente me entender! Eu não acredito que exista uma divindade, uma santa responsável pelo mar... E mesmo que exista, como pode um ser evoluído e iluminado como se espera que seja tal entidade, vá querer receber coisas do mundo dos homens, como velas, cocadas, perfumes, rosas...Não consigo acreditar nisso!

- Sinto muito! Para mim tudo isso é pura bobagem, crendice da cabeça das pessoas! – completou Janaína

A vó olhou para ela contrariada, e com toda ternura e paciência das avós, disse:

 - Janaína, minha querida! Essas oferendas todas que a gente faz, não é por pedido ou necessidade dos nossos orixás, guias e benfeitores! Óbvio que não! São energias cósmicas, seres de luz, espíritos evoluídos!

- Então, a troco de que todas essas oferendas? Só para sujar a praia?

- Janaína, todas essas oferendas é para que possamos de alguma forma materializar nossa fé! A maioria das pessoas não consegue mentalizar e firmar o pensamento em suas preces, sua conversa com o Cosmos, com o Mundo Maior! Toda a ritualística, inclusive os pontos que cantamos é para que a corrente se forme firme, numa mesma vibração. Não existe pessoas que entoam mantras para fazer meditação? Então, a finalidade é a mesma ...

- Hummm.... – Murmurou a jovem, ainda não totalmente convencida.

- E quer saber, minha neta? Nós entregamos nossas oferendas ao mar, uma vez por ano, sem plástico, sem papel, sem vidro. Só o isopor do barco...O que sujamos é muito menos que a sujeira toda, deixada pelo povo, todos finais de semana: latinhas, garrafas pets, garrafas de cerveja, canudinhos e baganas de cigarros, etc...

Janaína ficou calada, sem saber como responder. Por fim, disse:

- A senhora me convenceu minha vó! Vou assistir a festa a beira mar, se isso lhe faz feliz!

Dona Ieda não escondeu seu contentamento: deu um abraço afetuoso na neta.

- Você não tem ideia de como me faz feliz, minha neta!

No final do dia, vestindo branco como a ocasião exigia, Janaína se dirigiu para o local onde as festividades aconteceriam. Era uma festa de fé, de todas as crenças e religiões. Toda a doca estava enfeitada com bandeiras azuis, havia barracas vendendo de tudo desde comida, bebida até velas e santinhos com a imagem da divindade.

Uma brincadeira lhe chamou atenção: duas rodas enormes de crianças, todas vestindo branco e azul.  As rodas se intercalavam nas canções infantis, mas após cada frase, havia um coro uno que gritava “Sereia”!! Era lindo de assistir, e Janaína ficou emocionada.

Perto da meia-noite, se dirigiu para a praia, onde haveria os rituais das religiões afro-brasileiras. Avistou sua vó, pais, tios e primos; todos estavam participando.

Acompanhava tudo de longe, atenta ao som dos atabaques que pareciam estar em sintonia com o barulho do mar, a lua crescente, quase cheia, refletia seu brilho no mar, num espetáculo lindo. Sentiu uma vontade enorme de participar da grande roda e sem pensar dirigiu-se até onde todos cantavam, batiam palmas e cantavam. Quando percebeu, cantava junto:

“Hoje, hoje eu vou cantar, vou louvar na areia, em lua cheia minha mãe Iemanjá...Rosa do Mar, minha estrela do céu azul...Não é história de um pescador, que meu amor eu vou lhe entregar...”

E sem perceber, entrou no grande círculo. E dançou...

O batuque soou mais alto, todos batiam palmas e cantavam a toda voz, e ela girava e dançava. Dançava lindo, com seus cabelos esvoaçantes, dançava e dançava, e um frenesi tomou conta de todos. A dança de Janaína era pura energia e contagiava a todos. Quando por fim, os atabaques pararam, as pessoas começaram e ir em direção aos seus barcos oferendas, para entrega-los ao mar.

Janaína se dirigiu ao mar, e ainda em transe entrou. Foi quando uma enorme onda arrebentou encima dela, derrubando-a, e veio outra e mais outra, não permitindo que ela ficasse em pé. Foi quando sentiu duas mãos fortes a lhe levantar: era seu pai. Não estava no fundo, estava se afogando na areia... Quando de pé, respirou fundo, seu pai tirou os cabelos molhados do seu rosto e lhe deu um beijo na testa.  Já estavam saindo do mar, quando Janaína virou-se, e então a viu: uma onda gigantesca! Mas não era uma onda comum, além de sua grandiosidade, trazia o reflexo de um corpo de mulher, efeito do luar nas águas do mar. O efeito se repetia na espuma branca da crista daquela onda:  parecia uma vasta cabeleira, ornada com duas rosas – recém ofertadas por algum devoto. Janaína ficou paralisada, perplexa diante do que via! E então percebeu que seu pai também a via.

Sim, era ela, a Senhora das Águas, que se mostrava de forma magnífica.  

Seu pai se ajoelhou e disse:

- Salve Odoyá, minha mãe e protetora!

A onda chegou onde eles estavam e mais uma vez derrubou Janaína.

Desta vez, Janaína levantou-se sozinha. Olhou a volta, e pareceu-lhe que todos assistiam o ocorrido. E sem pensar, levada pela emoção que tomava conta do seu ser, dominada por um grandioso sentimento de felicidade, Janaína abriu os braços e trouxe água do mar para se rosto. Fez isso repetidas vezes, radiante de felicidade, brincando feito criança, gritando:

- Salve Odoyá! Salve Odoyá, minha mãe!

E todos responderam em coro:

- Odoyá!

*****

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Contos Urbanos nr.2_Impossível Esquecer

 Contos Urbanos                                                 

                                                            
Impossível esquecer!

Ainda me lembro com precisão absurda cada momento daquela noite de sábado. O que eu esperava ser uma noite de alegria e diversão na companhia do meu marido, virou uma noite de angústia, depois de humilhação, pesar e por fim, uma noite de novas experiências!

Não tínhamos muitas oportunidades de fazer programas juntos. A vida de médico dele estava sempre em primeiro lugar, sempre havia um chamado de urgência, alguém morrendo, ou necessidade de um diagnóstico de emergência.

Naquele dia, iríamos ao cinema e depois um jantar romântico. Eu estava feliz!

Mas tudo mudou ao chegarmos no cinema. Logo na entrada encontramos duas mulheres. Conhecidas do meu marido, colegas de trabalho. Uma era médica cardiologista, a outra enfermeira obstétrica. Ele me contou a respeito delas, quando questionei.

Percebi de imediato uma troca de olhares entre ele e a mulher mais alta. Morena de vasta cabeleira. Presença marcante. Uma beleza diferente. Não havia como ignorar a eletricidade no ar. Ela estava confiante e segura quando ele me apresentou às duas. A segunda mulher parecia estar excitada, curiosa, como se estivesse na expetativa de que alguma coisa interessante pudesse acontecer. A duas me analisaram da cabeça aos pés.

Meu marido, a princípio, pareceu surpreso. Depois, um tanto atrapalhado. Por fim, irritado! Eu, captei no ar alguma coisa, desde o primeiro momento em que as mulheres abanaram para ele, para logo depois se aproximarem.

Não gostei do que a minha intuição feminina gritava silenciosamente nos ouvidos.

Tentei agir com simpatia, com elegância. Mas existe algo um tanto sobrenatural entre as mulheres, que as permitem captar entre si, uma espécie de emanação, uma vibração ou energia que escancara todo e qualquer sentimento, emoção! Foi o que aconteceu! Eu percebi o quanto estava sendo analisada, o quanto elas estavam curiosas em me conhecer, mas também percebi uma simpatia fingida!  Havia um segredo no ar; e eu, era a única a não ter conhecimento do mistério!

Minha intuição gritou novamente. Naquele instante, fiz questão de deixa-la emudecida!

Conversas triviais. Convidei meu marido para entrarmos.

- Vamos sentarmos juntos! Vocês se importam que a gente sente com vocês?

Eu não queria acreditar que aquela mulher estivesse se convidando para ficar conosco. Que abuso!

- Eu me importo sim! Mil desculpas, mas não tenho muita chance de fazer um programa a sós com meu marido!

Todos me olharam surpresos, inclusive meu marido. Não esperei nova empreitada da inimiga.

Sim, naquele momento eu já enxergava aquela mulher de vasta cabeleira como uma rival, alguém que queria a atenção do meu marido. Ela demonstrava claramente suas intenções, seu objetivo.

Puxei meu marido pela mão, e deixamos as duas paradas e atônitas, no meio do “hall” de entrada.

Logo após os primeiros passos, meu marido perguntou:

- O que foi isso? Por que tanta indelicadeza para com minhas colegas de trabalho?

Sua voz demonstrava contrariedade. Ele estava contendo sua ira.

- Você ainda pergunta? Se alguém tem motivos para indignação, esse alguém sou eu!

Respondi firmemente, sem parar de caminhar.

Ele me seguiu em silêncio até nos acomodarmos nas filas centrais da plateia. Não havia lugares marcados naquela sessão. Ao sentarmos, um silêncio constrangedor. Meu marido numa carranca sem fim.

- Você não vai me dizer nada? – Perguntei por fim.

- O que você quer ouvir?

- A verdade sobre sua relação com aquelas mulheres. – Respondi.

- Somos colegas de trabalho. Nada mais que isso!

Ele respondia com os olhos firmes na tela do cinema.

- Por que você não responde olhando para mim?

- Porque eu vim aqui para assistir um filme, para relaxar, me distrair! Não quero saber de discussões sobre os fantasmas da sua insegurança!

Aquilo foi como um soco no meu estômago. Me levantei e sai dali, sem nada dizer.

Aquelas mulheres haviam conseguido estragar minha noite.

Me encostei na parede do corredor que conduzia ao banheiro feminino. E ali dei vazão as lágrimas de frustração e impotência. Fiquei ali, ignorando as pessoas que circulavam e me olhavam curiosas. Não tinha importância. O tempo passou, o filme terminou e eu nem percebi.

Quando ouvi o barulho e a movimentação aumentar no corredor, voltei a realidade, um tanto assustada com a minha ausência ao tempo real. Eu havia desligado completamente. Fui rapidamente ao banheiro, lavar meu rosto, disfarçar as lágrimas.

Tentei ir ao lugar onde meu marido estava, mas o fluxo contrário das pessoas me impediu. Achei melhor tentar encontra-lo no hall de entrada. Foi o que fiz!

Ao chegar ali, mais uma surpresa. Lá estavam os três, conversando animadamente.

Me senti humilhada! Saí dali dissimuladamente; eu não queria ser vista por nenhum dos três!

E agora? Onde ir? Sai caminhando sem destino; mas a noite estava fria. Um vento gelado.

Não havia mais lágrimas. Só havia um sentimento de dignidade ferida. Vergonha, frustração e profundo pesar.

Já estava caminhando há uns minutos, quando avistei uma cafeteria no outro lado da rua. Parecia familiar. Sentei-me numa mesa e pedi um “capuccino” com chantilly e dois pães de queijo! Sentada ali, sozinha, com os pensamentos desconexos, sem conseguir decidir sobre qual seria minha atitude ao retornar para casa, percebi que estava com fome.


Eu já havia terminado minha refeição há algum tempo, quando uma voz masculina ao meu lado deu fim aos devaneios da minha mente confusa.

- Perdão senhorita, mas estou há mais de uma hora a lhe controlar. Sua tristeza e solidão, na madrugada de um domingo, chamaram minha atenção!

Olhei para aquele desconhecido, ainda confusa e surpresa.

- Que horas são? – Foi só o que consegui dizer.

- São 02:45 h!

Fiquei chocada. Já era muito tarde!

- A senhorita precisa de ajuda? Posso chamar alguém, se quiser...

- Por favor, não!

Os pensamentos começaram a se organizar. Olhei atenta para o rosto daquele que me falava.

- Se me permite senhorita, meu nome é Victor Hugo, médico residente ali da Santa Casa!

Seu rosto parecia familiar. Era um homem jovem, bonito. Meu marido trabalhava no hospital da Santa Casa! Coincidência?

- Me permita lhe oferecer uma carona? Posso lhe levar para casa?

Minha razão gritou: “Não faça isso!”

- Nesse momento, não sei se quero voltar para casa!

Respondi e voltei minha atenção para minha xícara de café. Mas a xícara estava vazia.

- Posso então lhe oferecer uma xícara de café? Mas com umas gotinhas de Amarula para ajudar a aquecer....

Tornei a olhar para ele, desta vez com um leve sorriso nos lábios. Um café com Amarula e uma agradável companhia era tudo o que eu precisava.

Minha intuição falou: “Aceite e aproveite!”

Foi o que fiz. E assim tudo começou... Impossível esquecer!

*****

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

 Contos de Areia_nº2 

                                        Encontro extraordinário

                               

Ela adorava ir até a beira-mar nas primeiras horas da manhã: quando os raios solares lhe pareciam ter um brilho especial e as areias ainda estão vazias. Nesses passeios matinais, apenas a companhia de algumas aves em busca de alimento e, um ou outro pescador solitário.

Desde menina foi apaixonada pelo mar, o que lhe levou a estudar Biologia Marítima.  

Naquele dia especialmente, o sol parecia brilhar de forma mais intensa, o céu completamente limpo, sem uma única nuvem, de um azul muito vivo!

Mar aberto, naquela região do sul do Brasil, com a formação de muitas ondas...E naquela manhã de um sol maravilhoso, nenhum vento, mar limpo, águas verdes que brilhavam como um espelho devido a incidência da luz solar! E as ondas? Traziam em suas cristas uma espuma muito branca, e pareciam estar chegando na areia sob uma cadência ritmada! Um verdadeiro espetáculo da natureza!

Era um dia extraordinariamente lindo, perfeito para algum acontecimento especial!

Ela estava sentada na areia já alguns minutos, completamente fascinada pelo esplendor daquele amanhecer, quando um único pescador, bem ao longe, e que sem sorte em sua empreitada, notou sua presença e começou a acompanhar intrigado e curioso a imobilidade da jovem à beira-mar! O pescador também presenciava aquele show da natureza, mas acostumado àquele ambiente e focado no que fazia, não percebia a magnitude do que ocorria a sua volta!

Ela continuava com olhar fixo no horizonte, naquele ponto distante, onde o mar e o céu parecem se encontrar, tendo o sol como testemunha! Gostava de ficar só, simplesmente olhar o mar, respirando o ar da maresia. Para algumas pessoas, seu comportamento era estranho, esquisito. Sempre fora assim! Ela não se importava com o que as pessoas pensavam, na verdade, sempre se sentiu deslocada, como se não pertencesse àquele mundo em que vivia. Preferia a companhia dos animais, das plantas, às pessoas! Ficar só a beira mar sempre era um deleite, um verdadeiro prazer para ela.

A presença do pescador a alguns metros de distância não lhe incomodava; embora tivesse percebido que ele não tirava os olhos de sua figura. Tentou ignorá-lo.

E foi então que avistou alguma coisa, bem longe da orla, antes do local de formação das ondas. Parecia ser um animal grande, que brincava na superfície da água. Sem entender por que, seu coração bateu acelerado. Ficou ansiosa, como se soubesse, inconscientemente, que alguma coisa grandiosa fosse acontecer.

Colocou a palma da mão sobre as pálpebras, acima dos olhos, tentando aguçar a visão e confirmar a presença de alguma coisa no mar!

O pescador notou essa movimentação, e igualmente voltou sua atenção para o mar. E sem dificuldade  percebeu o que tanto atraía a atenção da jovem; que a essa altura, já estava em pé, hipnotizada, olhar fixo no mar. Ao pescador, pareceu que algum animal de porte nadava  sobre o espelho d’agua, como se quisesse usufruir dos raios solares...

Não era possível identificar com precisão que tipo de animal era; naquele momento, o pescador acreditou ser um golfinho ou leão marinho. Tinha certeza que não era um predador, um tubarão! Pois havia um certo encantamento, uma harmonia, parecia que aquele animal estava numa espécie de apresentação e não em busca de comida.

A jovem caminhou em direção ao mar, sem nunca tirar os olhos dos movimentos nas ondas, completamente fascinada pelo show que aquele animal propiciava; e o que quer que fosse, nadava vindo para a praia. Não tinha pressa; vez que outra mergulhava e desaparecia por alguns instantes, para aparente desespero da jovem, para logo depois ressurgir com leveza e magia. Fazia acrobacias, se exibia, como se entendesse que havia quem se interessava por sua presença, ali, naquele pequeno balneário, num dia de amanhecer exuberante!

O pescador já tinha convicção de tratar-se de um golfinho, mas daquela distancia, lhe parecia ser gigantesco, muito maior do que qualquer indivíduo que já tivera conhecimento.

Talvez uma espécie mutante? Uma espécie desconhecida?  

Agora, o pescador também se interessara pelo animal que se avizinhava da orla.

Resolveu se aproximar da jovem, que já demonstrava a intenção de entrar no mar; atitude não recomendável, uma vez que não era possível prever as reações do animal. Antes, porém, resolveu recolher suas linhas de pesca. Tarde demais! Quando percebeu, ela já estava entrando no mar, com alguma dificuldade, é verdade, devido a força das ondas. Ele ainda gritou:

- É perigoso moça! Não entre!!

Ela olhou para ele um instante, nada respondeu, apenas deu de ombros e seguiu caminhando.

O pescador veio correndo, entrou no mar e continuava a alertar do perigo:

- Volte moça! É perigoso!

E foi nesse momento que a maior surpresa aconteceu. Repentinamente, a poucos metros à frente da moça, o enorme golfinho emergiu sobre as águas, em pé! O pescador ficou paralisado, num misto de surpresa e medo. Com os olhos esbugalhados, a boca seca, a respiração acelerada, não conseguia raciocinar e não tinha a compreensão do que estava acontecendo.

O animal continuava a brincar em pé sobre as águas. Os raios do sol batiam na sua pele molhada e a deixavam com cor e brilho únicos. Ele, agora, emitia uns sons. Parecia estar feliz!

O mar parecia entender o que se passava: as ondas repentina e surpreendentemente acalmaram. Agora, não passavam de pequenas marolas, facilitando a caminhada da jovem até o animal, que agora nadava em círculos, num pequeno raio de água, à frente da trajetória da moça.

Sem acreditar no que via, o pescador acompanhou em choque, a distância, o que se passou a seguir...

A jovem caminhou até onde pode, mas logo teve que nadar para se aproximar do animal. Era como um encontro marcado: o animal continuava a nadar em círculos, esperando que ela chegasse até ele!

Quando ela chegou bem próximo, numa área mais profunda, onde não existia o risco de encalhar, ele se aproximou, lenta e tranquilamente! Ficaram se olhando longos segundos. A jovem então, com uma mão se firmava nele, e com a mão livre lhe tocava o rosto. O animal começou a emitir uns sons baixinhos, enquanto ela tocava e beijava-lhe o corpo.

O pescador a tudo assistia, incrédulo! E então, ele deu um mergulho, para quase que imediatamente emergir novamente, só que desta vez, bem embaixo da jovem, fazendo com ela ficasse sobre seu dorso. Ela, de longe, não parecia nem um pouco assustada: era possível vê-la acariciando o corpo do animal. Ele nadou em círculos, com ela agarrada a barbatana superior, para logo depois se posicionar sobre o animal, como se cavalgasse.

Foi quando ele emitiu um som muito alto. Não era um grito de medo ou dor! Parecia um grito de felicidade, de conquista ou vitória! E então, rapidamente se aproximou do pescador que a tudo assistia, completamente aturdido. O pobre homem ficou paralisado, em choque! Era um golfinho gigantesco, enorme, mas sua expressão era dócil, seus movimentos amáveis. Parecia rir, e então, seus olhos se encontraram com os do pescador.

Haveria satisfação e alegria naquele olhar animal?

O pescador procurou os olhos da jovem: ela estava em êxtase no dorso do animal. Parecia imensamente feliz e realizada!

E então, tão rápido quanto se aproximaram, eles se foram, mar adentro!

O pescador ficou olhando, impassível, perplexo, enquanto eles se afastavam, parecendo nadar sobre um espelho d’agua! Quando estavam quase no horizonte, último estágio onde a visão do homem ainda alcançava, percebeu que o animal deu um salto magistral e mergulhou....

Foi a última coisa que sua visão humana pode constatar!  

O pescador ainda ficou algum tempo ali, parado, olhando o horizonte! Na esperança de que aquele animal trouxesse de volta a praia aquela jovem! Mas eles nunca voltaram!

Nunca contou a ninguém o que presenciara! Ninguém acreditaria!

A moça nunca mais foi vista, nem seu corpo encontrado. Simplesmente desapareceu!

Quem me contou essa história? Não vou lhes dizer, vocês não acreditariam... FIM

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

 Contos de Areia_nº1

A escolha

                                     Mara Assumpção

Seu Neco era um senhor de mais de 80 anos, viúvo. Ainda hoje trazia traços do corpo atlético de sua juventude. Havia se mudado para aquele pequeno balneário do litoral gaúcho há mais de 10 anos, quando se aposentara pela Polícia Militar. Quando sua esposa faleceu devido um problema cardíaco, sua única filha lhe pediu que vendesse a casa onde morava e que retornasse para sua cidade natal.  Seu Neco recusou imediatamente. Adorava o sossego daquele lugar, que mesmo na temporada de praia se mantinha como um recanto familiar.

A filha e demais parentes não entendiam porque ele insistia em morar sozinho, longe de toda família. Mas seu Neco nem se preocupava em explicar seus motivos. Não entenderiam. Ele adorava sua vidinha pacata, no seu paraíso – era assim que ele se referia a sua prainha.

-Enquanto eu tiver saúde para fazer minha comida e cuidar das minhas coisas, sem depender de ninguém, daqui eu não saio! – costumava ele repetir a cada investida da filha para levá-lo para mais próximo.

Seu Neco apreciava sua rotina tranquila, e sentia-se feliz com o que a vida lhe proporcionava. Acordava cedo, preparava seu chimarrão – um hábito gaúcho - e sentado na varanda de sua casa, com o rádio ligado ao seu lado, lia seu jornal e, apesar das modernidades, expressão dele, não abria mão de seu jornal impresso.

Depois, por volta das 8h, com seus passos já trôpegos, caminhava até o mar, cerca de 1km de distância de sua casa. E então o momento mais prazeroso do dia: o banho de mar! Seu Neco adorava o mar!

No verão, costumava sentar-se a beira mar e tomar banho de sol, entre um mergulho e outro ou um bate-papo com os guarda-vidas.

No inverno, quase sempre o vento frio que vinha do mar lhe impedia de prolongar-se no seu passeio.

Depois retornava pelo mesmo caminho, passos lentos, mas sempre firmes. Sem pressa, um passo de cada vez.  

À tarde, por volta das 15h, nova caminhada. Esta, bem mais curta: umas três quadras entre sua casa e a padaria, onde buscava pãezinhos quentinhos para o café da tarde. Uma parada aqui, outra ali, para trocar ideias com a vizinhança, quase sempre sobre futebol, o clima e o mar.

Seu Neco também adorava as flores, em especial as orquídeas. Quando via alguma em flor nos jardins vizinhos, sem constrangimento pedia uma muda. Não era raro, pedir mais de uma vez a mesma muda, para a mesma vizinha. Sua memória já não era muito boa!

Foi nessas idas e vindas a padaria que começou a conversar com a Margo. Dia sim, o outro também se encontrava com a Margo na Padaria do Boni, e voltavam juntos pela rua, cada qual com sua sacolinha de pão.

Dona Margarida, a Margo, tinha 75 anos, e como seu Neco era viúva. Nunca tivera filhos.

- Deus não quis me fazer mãe! – era o que sempre repetia.

Vivia com uma irmã mais velha que lhe servia de companhia. Viviam brigando as duas. Dona Margarida, mais de uma vez pensou em mandar ela embora. Mas nunca teve coragem. Sabia que se o fizesse, sua irmã iria terminar num asilo qualquer. Ela tinha dois filhos que mal ligavam para ela vez que outra, e que a visitavam apenas duas vezes por ano: no aniversário e dia das mães!

Seu Neco e dona Margarida ficaram amigos. Cada dia que passava, mais amigos. E por fim, quando a primavera trouxe dias mais quentes, dona Margarida começou a lhe acompanhar todos os dias em sua caminhada até o mar. Tinham um no outro, uma companhia agradável, parceria para conversas triviais e para apreciar as pequenas felicidades que a vida nos propiciava e que o corre-corre do dia-a-dia nos impede de enxergar. Nada exigiam um do outro, compartilhavam suas manhãs com paz, alegria e serenidade.


Quando o verão chegou, seu Neco e sua Margo, já costumavam passear a beira-mar de mãos dadas, o passeio e o banho de mar ficaram mais longos, e costumavam trocar um rápido e furtivo beijinho nos lábios quando se separavam, para depois cada qual seguir o caminho de casa e aguardar a hora de comprar pão, para novo e desejado encontro.

Seu Neco e sua Margo estavam apaixonados e felizes. Era possível ver em seus olhos, no sorriso, até na alegria e gentileza das palavras, aquele encantamento e magia comum aos enamorados.

Entretanto, sua filha nunca desistia de convidá-lo a retornar para sua cidade natal, e com o passar do tempo, estava cada vez mais preocupada com a distância, o avanço da idade e o pai morando sozinho. Fim de semana sim, outro não, visitava o pai; mas às vezes sentia-se cansada em ter que viajar até o litoral.

- Ah, como seria bom se o pai concordasse em retornar para perto! – dizia ela aos demais familiares.

Num sábado em que foi visita-lo, tocou novamente no assunto:

- Pai, sabe aquela casa do senhor Raul, o açougueiro?

- Claro que sim! Adoro aquela casa...

- Pois então, aquela casa está à venda!

-Ué! Porque será? Você sabe?

- Eu estava pensando que poderíamos vender essa casa aqui da praia e comprarmos aquela para o senhor...

O pai olhou surpreso para a filha.

- Quem lhe disse que quero vender essa casa?

- Seria melhor para nós todos, o senhor morando perto de mim....

- Como eu faria minha caminhada até o mar?

- O senhor poderia fazer sua caminhada na praça, no centro da cidade.

- E o meu banho de mar?

- Bem, o senhor não poderá ter tudo ... O banho de mar seria só nas minhas férias, quando poderíamos alugar uma casa no litoral!

- E a minha namorada? Deixaria para trás? Logo agora que encontrei a parceira ideal!

- Tá ficando caduco pai? Que namorada? O senhor nunca quis ter uma namorada.

- Aí que você se engana! – respondeu ele com certo sarcasmo.

- Ok, pai! Não quer voltar pra nossa terrinha, tudo bem! Não precisa ficar inventando namorada como desculpa!

O velho senhor deu de ombros e disse:

- Muito obrigado minha filha por toda preocupação! Agradeço de coração, mas eu fico por aqui... 

- Escolho o meu banho de mar...- completou ele.

E dando a conversas por encerrada, saiu em passos trôpegos, murmurando e rindo consigo mesmo:

- ...Escolho o meu banho de mar e a minha Margo!

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quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Poema_ Maturidade

 

Maturidade


O tempo em que somos o que somos
Não precisando de aprovação,
nem de paixão!
O relógio já não é nosso ditador.
Vivemos mais serenos
Repletos de esplendor!

Sem o fogo da paixão,
Mas também sem tanto tesão!
Ouvidos fechados para recriminação
Beijos, doces flores e amores,
Quanta admiração!

Eis aí a sapiência da natureza,
Que nos torna maduros.
Mente experiente
Corpo decadente
Alma transparente!

Dia após dia,
serenamente...
Apreciando a beleza da Vida,
sem precisar olhar para trás,
um olhar para a frente,
se realmente quiser.
Vivendo apenas o presente
sem pressa, tranquilamente!